Península Ibérica precisa de mais ligações energéticas à Europa. Onde podem estar estas “pontes”?

Desde a crise energética que assolou a Europa em 2022 e, mais recentemente, até ao apagão que deixou a Península Ibérica cerca de 10 horas às escuras, têm sido sonantes os alertas de que seriam bem-vindas mais interconexões entre a Península Ibérica e a restante Europa.
Num estudo apresentado esta segunda-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que destaca a ameaça em termos de segurança que a falta de interconexões representa, assim como a oportunidade que o rótulo de “ilha energética” traz à Península, são enumeradas seis das possibilidades de reforçar a ligação energética de Portugal e Espanha a países vizinhos, da eletricidade ao hidrogénio verde. Conheça-as.
A “Ponte Solar Mediterrânea” ou “Apollo Link” são os nomes pelo qual se apresenta o projeto que pretende ligar Espanha e Itália por um cabo submarino de 2 gigawatts, “mas o projeto enfrenta desafios regulatórios significativos e custos elevados”, observam os autores do estudo. Na análise de “custo-benefício” que é apresentada no site do projeto, lê-se que “o investimento inicial de 3,5 mil milhões de euros é substancial para um cabo de 700 quilómetros, mas os benefícios de longo prazo são elevados“, na ordem dos 250 milhões a 720 milhões por ano. Isto, olhando apenas ao lado económico, embora também seja referido o interesse do projeto em termos de segurança de abastecimento. O planeamento e primeiras fases de construção estão ‘marcados’ para o horizonte entre 2026 e 2029, e a operação está projetada para 2032.
Espanha tem sido um país exportador em relação a Marrocos, cujo mix energético, renovável apenas em 20%, dita que seja mais económico importar eletricidade ibérica. Espanha planeia construir uma terceira ligação a este país africano, para reforçar exportações. Um acordo que já remonta ao ano de 2019. O investimento ascenderia a 150 milhões de euros, dos quais 75 milhões caberiam a Espanha, informava, na altura a Red Elétrica (a operadora da rede de transporte espanhola).
Uma interligação de 1 gigawatt pode passar a ligar Portugal e Marrocos, tornando-se o primeiro elo energético direto entre os dois países. Esta pode ser uma alternativa ao reforço referido acima da ligação entre Espanha e Marrocos.
A ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, afirmou esta segunda-feira que a criação de uma ligação energética entre Marrocos e Portugal é uma hipótese que está a ser considerada pelo Governo, tendo recebido “contactos muito preliminares” por parte de Marrocos neste sentido. A ministra irá receber embaixadores deste país em breve para serem avaliadas as possibilidades. A mesma explicou que a ligação direta tem problemas de “custo-benefício”, e de como este se reflete na tarifa, mas poderá ser analisada a opção de Portugal ser parte num projeto de ligação entre Marrocos e o centro da Europa. Para já, está tudo em aberto, frisou.
Ligações de longa distância e que atravessam mais que uma fronteira também estão no campo das hipóteses. Uma ligação entre Marrocos e o Reino Unido, passando pela costa portuguesa, é uma dessas opções, “apesar de se manterem desafios tecnológicos e administrativos”, indica o estudo.
O projeto, chamado Xlink, prevê um cabo submarino de 4.000 quilómetros, ligado a um projeto de energia renovável em Marrocos — energia solar, eólica e baterias — e esperava arrancar o fornecimento em 2030. Contudo, no início de julho, sofreu um duro golpe: o Reino Unido negou-se a financiar o projeto, avaliado em 25 mil milhões de libras (28,8 mil milhões de euros), noticiou a Reuters. Os investidores incluem a energética francesa Total, que já terá angariado cerca de 100 milhões de libras em financiamento, até ao momento, escreve a Sky News.
O nome “H2Med” não será estranho para os mais atentos ao universo da energia. Em outubro de 2022, Portugal, Espanha e França concordaram desenvolver uma nova ligação energética, desta vez um gasoduto, a pensar na exportação de hidrogénio verde produzido na Península Ibérica para o resto da Europa.
Contudo, “tendo em conta o estado atual do setor do hidrogénio renovável, o futuro do gasoduto, em particular o seu prazo de conclusão, que originalmente estava previsto para 2030, permanece incerto e deverá enfrentar atrasos”, indicam os autores do estudo da fundação.

Recentemente, no início de julho, a Redes Energéticas Nacionais (REN) avançou uma atualização: foi fechado um acordo de criação de uma joint venture dedicada ao desenvolvimento do Projeto de Interesse Comum (PCI) BarMar, o gasoduto de hidrogénio renovável que ligará Barcelona, em Espanha, a Marselha, em França. “Uma parte fundamental do projeto H2med”, lê-se no comunicado.
Também este ano, mas já em janeiro, a Comissão Europeia anunciou que iria apoiar, com 35,5 milhões de euros, interligações de hidrogénio na Península Ibérica, incluindo 7,2 milhões para uma interconexão entre Celorico da Beira e Zamora e o restante para um interconector entre Espanha e França.
“Portos chave” como Algeciras, Huelva, Bilbau e Sines estão a desenvolver projetos de larga escala para exportar derivados de hidrogénio como a amónia verde, metanol e combustíveis sintéticos para o norte da Europa, em particular para a Alemanha, Países Baixos e Bélgica.
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